Em 21 de março comemora-se o Dia Internacional da Síndrome de Down. Um dia voltado para se pensar as práticas de educação, bem-estar e saúde que possam impactar a vida dos portadores dessa síndrome, promovendo inclusão social. Neste contexto, é importante que os profissionais de odontologia reconheçam as particularidades associadas à síndrome de Down para desenvolver uma linha de cuidados que envolva tanto a prevenção e o tratamento de doenças bucais, como também o manejo de fatores relacionados à fala, deglutição e respiração, dentro do conceito mais abrangente de saúde integral.
Um olhar diferenciado das questões sistêmicas permite ao cirurgião dentista planejar tratamentos mais individualizados, assim como conhecer os aspectos comportamentais dos pacientes permitirá a criação do vínculo afetivo necessário para um cuidado longitudinal.
Dentre as características especificas intraorais, os pacientes portadores de síndrome de Down podem apresentar alterações de número, da forma, de estrutura dos dentes ou na cronologia de irrupção e agenesias. Também pode haver hipotonia lingual, deglutição atípica, oclusão deficitária e maior predisposição à doença periodontal. Nos aspetos sistêmicos, deve-se considerar uma deficiência no sistema imunológico e uma maior predisposição às cardiopatias congênitas. O comprometimento cognitivo é individual, podendo interferir na assimilação e compreensão dos cuidados com a higiene oral. As dificuldades motoras podem prejudicar a execução das técnicas de escovação dentária e o uso de fio dental. Enquanto, o medo e a ansiedade podem exigir uma abordagem mais acolhedora por parte da equipe profissional.
A manutenção da saúde bucal dos portadores de síndrome de Down é um desafio que provavelmente envolverá familiares e cuidadores, uma vez que a autonomia também depende de fatores individuais e da cultura familiar. O profissional de odontologia deverá instruir cuidadores e familiares na superação de dificuldades ocasionais e na adaptação de técnicas de higiene oral, permitindo o melhor resultado no controle dos fatores que predispõem as doenças bucais. O uso de escovas elétricas, enxaguantes orais com flúor, escovas dentais de tripla ação e passadores de fio dental são meios de se conseguir um melhor desempenho no controle do biofilme, na prevenção de tártaro, como também da cárie.
Para o atendimento em consultório de pacientes fóbicos, o uso de sedação consciente com óxido nitroso pode ser uma alternativa que, entretanto, exigirá uma habilitação profissional específica. Os exames de imagens são essenciais para a avaliação da condição oral e para o planejamento prévio do tratamento. Radiografias, tomografias ou até mesmo a ressonância magnética auxiliam no diagnóstico e na definição das melhores abordagens para a solução dos problemas encontrados.
Para o portador de síndrome de Down, a odontologia deverá ser parte de um tratamento transdisciplinar, cujo emprego de técnicas modernas e de tecnologias avançadas possa garantir maior qualidade de vida e de saúde, propiciando conforto, bem-estar e, acima de tudo, dignidade no acolhimento e na atenção.
Leia também